Leis e programas de incentivo à leitura são diversos e
conhecidos. Ainda não vi nenhum especificamente direcionado para a escrita. Distribuir livros já prontos, vindos de grandes
editoras e distribuidoras é fácil e rentável. Por outro lado, organizar uma produção literária é algo que chega a ser artesanal, demorado e com pouco
impacto financeiro, visto que o material pode ser publicado gratuitamente pela
internet por exemplo.
Porém o incentivo à escrita tem um diferencial muito latente:
estimular a autoria. E ser autor é não ser passivo, não ser um mero receptor de
estímulos externos, mas produtor de próprios e inéditos conteúdos. Ser autor é desenvolver
o senso de autonomia, tomar uma história pelas próprias mãos, uma história que
é sua, seja ela da realidade ou da ficção.
A nova geração está acostumada a ter tudo pronto, basta um
clique, um telefonema, um passar de cartão de crédito e lá estão o trabalho de história,
a carona do pai e a pizza pronta do supermercado. O estímulo à passividade
ganha forças quando as pernas são poupadas do andar, a cabeça do pensar, as
mãos do fazer. Por outro lado, nossas
crianças e jovens recebem superestímulos eletrônicos que vão além das suas capacidades cognitivas, ou seja, ocorre um bombardeio difícil de ser assimilado
pelas cabecinhas que ficam ansiosas e com sérias dificuldades de aprendizagem e
relacionamento.
Aí fica difícil mesmo ser autor, criar algo novo e seu, original, inspirador, alimentando o ciclo para que outros receptores-autores também criem as suas próprias histórias.
Juliana Maringonni é jornalista e psicopedagoga, especialista em Jornalismo Literário e Educação pela UFF com aprimoramento em Escrita Criativa pela Unicamp. Desenvolve e ministra oficinas de escrita para crianças, jovens e adultos. E-mail: contato@editorarosarose.com.br