A torre de livros

 
Era  a primeira aula de uma turma de escrita criativa. Comecei a me apresentar quando um aluno teve uma curiosidade: “como você começou com tudo isso?”
Quando eu era criança e nem sabia ler, já ficava encantada com os livros que o meu pai recebia de editoras. Ele era professor de Literatura e sempre que o carteiro tocava a campainha eu esperava uma nova torre para admirar. Para mim era mesmo uma torre de retângulos de onde saíam as histórias que a minha mãe contava antes de dormir. Meu pai era muito desligado e quando se dava conta eu já tinha amassado ou rasgado alguma coisa. E fingia que não tinha visto. O fato é que aquele ambiente me trazia paz. E aí eu cresci com essa vontade de transmitir isso por meio das palavras. Fiz o curso de jornalismo na PUC Campinas bem no período em que o meu pai teve câncer. Ia para a biblioteca nas horas vagas, passava os intervalos em meio as obras e mesmo que nada lesse, e só ficasse na companhia das estantes lotadas, era lá que eu me sentia em casa.
E ele foi embora no último ano do curso, momento do meu trabalho de conclusão. Eu tinha que escrever enfim um livro. Escolhi fazer um livro-reportagem perfil sobre a vida da escritora Hilda Hilst.
Mergulhei na vida escritora, realizei uma profunda imersão e contei com a preciosa ajuda do professor orientador. Percebi o quanto foi importante ter alguém lendo e discutindo cada capítulo que eu entregava. Achei o processo tão mágico, que anos depois encontrei minha vocação: orientar outras pessoas que sonham escrever. Desde 2008 são mais de cem obras em que participei do processo de produção. Adultos, adolescentes, crianças, idosos. Todos com a mesma sensação que tive de quase levitar quando ouvi pela primeira vez alguém estender as mãos com um tijolinho de torre que eu havia construído e perguntar: “me dá um autógrafo?”